terça-feira, 10 de maio de 2011
Ciência vs Literatura?
Reparem em como as várias etapas do método científico estão integradas no poema:
Busca da amostra a ser estudada:
Encontrei uma preta
que estava a chorar, pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.
Recolha cuidadosa da amostra:
Recolhi a lágrima com todo o cuidado
num tubo de ensaio bem esterilizado.
Observação atenta e análise cuidadosa:
Olhei-a de um lado, do outro e de frente:
tinha um ar de gota muito transparente.
Experimentação:
Mandei vir os ácidos, as bases e os sais,
as drogas usadas em casos que tais.
Ensaiei a frio, experimentei ao lume,
Resultado- constatação da hipótese formulada:
…de todas as vezes deu-me o que é costume:
nem sinais de negro, nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo) e cloreto de sódio.
Desafio:
Pesquisem na Internet outros textos que abordem ciência e partilhem ;)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
De Pablo Neruda
ResponderEliminarOde ao laboratorista
Há um homem
escondido
observa
com um só olho
de ciclope eficiente,
são coisas minúsculas,
sangue,
gotas de água,
olha
e escreve ou conta,
naquela gota
circula o universo,
a via láctea treme
como um pequeno rio,
observa
o homem,
e anota,
no sangue
minúsculos pontos vermelhos,
planetas em movimento
ou invasões
de fabulosos regimentos brancos,
o homem
com o seu olho
anota,
escreve
ali contido
o vulcão da vida,
o esperma
com a sua titilação de firmamento,
como aparece
veloz o tesouro
trémulo,
as sementezinhas do homem,
logo
em seu círculo pálido
uma gota
de urina
mostra países de âmbar
ou na tua carne
montanhas de ametista
pradarias ondulantes,
verdes constelações ,
no entanto
ele anota, escreve,
descobre
uma ameaça,
um ponto dividido,
um halo negro,
identifica-o, encontra
o seu prontuário,
já não pode escapar-se,
repentina
no teu corpo será a caçada,
a batalha
que começou no olho
do laboratorista:
será de noite, junto
à mãe morte,
junto ao menino as asas
de espanto invisível,
a batalha na ferida,
tudo
começou
com o homem
e o seu olho
que procurava
no céu
do sangue
uma estrela maligna.
Ali, de bata branca
segue
procurando
o sinal,
o número,
a cor
da morte
ou da vida,
decifrando
a textura
da dor, descobrindo
o emblema da febre
ou o primeiro sintoma
do crescimento humano.
Logo
o descobridor
desconhecido,
o homem
que viajou pelas tuas veias
ou denunciou
um viajante mascarado,
no Sul ou no Norte
das tuas vísceras,
o temível
homem com o olho
pega no seu chapéu,
põe-no,
acende um cigarro
e sai para a rua,
move-se, desprendido
espalha-se pelas ruas,
junta-se à massa dos homens,
por fim desaparece
como o dragão
o monstro diminuto e circulante
que ficou abandonado numa gota
no laboratório.
Máquina do Mundo
ResponderEliminarO Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto é matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.
António Gedeão (1961)
CIÊNCIA
ResponderEliminarProvar, comprovar , generalizar
A ciência edifica, ratifica
salva , mata
É inconteste na evolução
da civilização.
A ciência domina, ensina
passa por cima, é poder
Polui, influi, desapega,
desemprega, desmistifica.
Ciência é evolução,
luz na escuridão.
Ciência sem emoção,
luzir da razão.
Ciência, grandeza do homem
Ciência X Deus
quem terá razão?
José Marcos di Ayres
Luís Santos
No Monte Palomar
ResponderEliminarnum telescópio gigante
passa a vida a perscrutar
o céu distante
Trata todas as estrelas
como se fossem irmãs
sejam elas gigantes
ou sejam elas anãs
Dorme durante o dia
de noite está acordado
Com o seu telescópio
varre o céu de lado a lado
Sempre na esperança
que do fundo do infinito
chegue um dia uma resposta
ao seu grito»
Poema para Galileo
ResponderEliminarEu queria agradecer-te, Galileo,
a inteligência das coisas que me deste.
Eu, e quantos milhões de homens como eu
A quem tu esclareces-te,
Ia jurar – que disparate, Galileo! –
e jurava a pés juntos, e apostava a cabeça
Sem a menor hesitação –
Que os corpos caem tanto mais depressa
Quanto mais pesados são.
Tu é que sabias, Galileo Galilei.
do alto inacessível das suas alturas,
foram caindo, caindo,
e sempre, ininterruptamente,
na razão directa do quadrado dos tempos.
António Gedeão (1968)
* João
ResponderEliminartítulo: "O astrónomo"
autor: Jorge Sousa Braga
Onde Nasceu a Ciência e o Juízo? MOTE
ResponderEliminar— Onde nasceu a ciência?...
— Onde nasceu o juízo?...
Calculo que ninguém tem
Tudo quanto lhe é preciso!
GLOSAS
Onde nasceu o autor
Com forças p'ra trabalhar
E fazer a terra dar
As plantas de toda a cor?
Onde nasceu tal valor?...
Seria uma força imensa
E há muita gente que pensa
Que o poder nos vem de Cristo;
Mas antes de tudo isto,
Onde nasceu a ciência?...
De onde nasceu o saber?...
Do homem, naturalmente.
Mas quem gerou tal vivente
Sem no mundo nada haver?
Gostava de conhecer
Quem é que formou o piso
Que a todos nós é preciso
Até o mundo ter fim...
Não há quem me diga a mim
Onde nasceu o juízo?...
Sei que há homens educados
Que tiveram muito estudo.
Mas esses não sabem tudo,
Também vivem enganados;
Depois dos dias contados
Morrem quando a morte vem.
Há muito quem se entretém
A ler um bom dicionário...
Mas tudo o que é necessário
Calculo que ninguém tem.
Ao primeiro homem sabido,
Quem foi que lhe deu lições
P'ra ter habilitações
E ser assim instruído?...
Quem não estiver convencido
Concorde com este aviso:
— Eu nunca desvalorizo
Aquel' que saber não tem,
Porque não nasceu ninguém
Com tudo quanto é preciso!
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."
Lição sobre a água
ResponderEliminarEste líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e alta temperatura,
move os êmbolos das máquínas que, por isso,
se denominam máquinas a vapor.
É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão
António Gedeão
Todas as opiniões que há sobre a Natureza
ResponderEliminarNunca fizeram crescer uma erva ou nascer uma flor.
Toda a sabedoria a respeito das cousas
Nunca foi cousa em que pudesse pegar como nas cousas;
Se a ciência quer ser verdadeira,
Que ciência mais verdadeira que a das cousas sem ciência?
Fecho os olhos e a terra dura sobre que me deito
Tem uma realidade tão real que até as minhas costas a sentem.
Não preciso de raciocínio onde tenho espáduas.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
"Ciência e Poesia...
ResponderEliminarPorque não?
A ciência explica o mundo através da razão,
a poesia através do coração.
Poesia,
sentimento em potência
em busca de expressão.
Ciência,
conhecimento em construção
que precisa confirmação.
Juntas,
Ciência e Poesia,
muitos mistérios desvendariam,
expressando-os através da razão,
confirmando-os através do coração..."
(...)
Tiago Rodriguez